Enquanto o Brasil se prepara para receber a Rio + 20 e ainda engatinha na intenção de fazer da sustentabilidade uma preocupação coletiva, o pesquisador austríaco Fritjof Capra, que trata do assunto há décadas, alerta: sem uma alfabetização ecológica, o planeta está perdido.
“Nós precisamos incutir nos estudantes, nos empresários, nos líderes políticos os valores de sustentabilidade”, diz Capra, que participou nesta semana da série de eventos Encontro de Sustentabilidade, promovido no Rio e em São Paulo pelo banco Santander.
É a tal consciência ecológica, a capacidade de observar a natureza e trazer esses ensinamentos para a vida real que Capra e sua equipe chamaram, ainda nos anos 90, de ecoalfabetização.
Hoje, o físico austríaco radicado nos Estados Unidos e autor de vários livros dirige o Centro de Ecoalfabetização (http://www.ecoliteracy.org/) em Berkeley, uma entidade que ajuda escolas a incluírem sustentabilidade transversalmente no currículo, com tarefas participativas e multidisciplinares. Capra defende que a ecologia não pode ser compreendida nem abordada separadamente de outras áreas do conhecimento, por isso suas contribuições acadêmicas começam em física, química e biologia e chegam a campos tão diversos quanto administração e sociologia.
“Quando olhamos para os ecossistemas, nós percebemos que eles são comunidades de plantas, animais e microrganismos que se relacionam de forma que maximizam sua sustentabilidade. Não tem desperdício na natureza.”
Para ajudar a desenvolver essa percepção desde cedo, por exemplo, Capra sugere levar turmas da pré-escola para uma horta. Lá, afirma o professor, os pequenos podem ser apresentados ao ciclo de vida dos alimentos, aprender que nenhum ser vive sozinho e descobrir que isso também ocorre no dia a dia deles.
“Em São Paulo, se a criança vive no centro, ela não sabe de onde o alimento vem. Ela acha que a comida vem do supermercado.”
Algumas das propostas de atividades escolares pelo centro de Capra a escolas serão publicadas no livro “Smart by Nature” (http://www.ecoliteracy.org/books/smart-nature-schooling-sustainability), com edição em língua portuguesa prevista, mas ainda sem data definida. As experiências do livro, de acordo com o especialista, podem ajudar escolas brasileiras a tratarem do assunto.
“O Brasil não pode copiar o que estamos fazendo na Califórnia porque o sistema escolar, a cultura e o clima são diferentes. Mas os professores podem se inspirar e fazer do seu próprio jeito”, afirma.
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