segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Plano Nacional de Educação deverá fixar meta de investimento no setor em 8,3% do PIB

Após meses de um intenso trabalho de análise e negociações, o relatório do Plano Nacional de Educação (PNE) está em fase final de elaboração e deve ser apresentado na próxima semana na Câmara. O projeto de lei definirá 20 metas educacionais que o país deverá atingir até a próxima década. Versão preliminar do relatório obtida pela Agência Brasil estabelece que o país deverá aumentar o investimento público em educação dos atuais 5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 8,29% nos próximos dez anos.
Esse era um dos pontos mais polêmicos do plano e alvo de boa parte das quase 3 mil emendas que o projeto recebeu. A proposta inicial do governo era de que esse patamar fosse de 7%, mas houve grande pressão dos movimentos sociais para que se ampliasse o percentual para 10%. O relatório do deputado Angelo Vanhoni (PT-PR) encontrou uma solução intermediária para a questão: determina o aumento dos investimentos para 7% do PIB até o quinto ano de vigência do PNE e para 8,29% no décimo ano de vigência do plano.
Durante a tramitação na comissão especial criada para avaliar o PNE, diversos estudos apresentados por entidades e pesquisadores indicavam que 7% seriam insuficientes para atingir todas as metas de melhoria do acesso e da qualidade da educação previstas no plano. Para a deputada Dorinha Rezende (DEM-TO), que faz parte da comissão do PNE, o valor que deve ser estipulado no relatório (8,29%) ainda é pequeno. Os deputados terão direito a apresentar novas emenda ao relatório e ela acredita que o tema será novamente debatido.
“Esse continua sendo o ponto em que no discurso todo mundo é a favor [de mais dinheiro], mas na prática não se efetiva. É preciso entender que os 5% de hoje não estão dando conta de garantir a qualidade, precisamos de um esforço a mais para garantir um bom padrão para todos. Hoje você tem professor ganhando R$ 4 mil e outros que não recebem nem o piso nacional [R$ 1.187]”, defende a deputada.
Na avaliação de Dorinha, o relatório irá tentar conciliar as diversas propostas, mas, para ela, o momento é ideal para estabelecer um pacto por um maior esforço. Ela aponta que, além de aumentar o patamar de investimento, o PNE deve determinar uma maior participação da União nessa conta, que hoje fica em grande parte com estados e municípios. “Isso não quer dizer que daqui a dez anos a gente não possa rever essa meta. Se houver melhoria no sistema poderemos avaliar e entender que os 10% do PIB não são mais necessários. O aluno que repete todo ano, por exemplo, é um dinheiro que a rede de ensino joga fora e se eu consigo melhorar o sistema diminuo os gastos”, pondera.
Além da meta que define o patamar de investimento, outras também sofreram alteração em relação ao projeto enviado ao Congresso pelo Executivo. A de número 11 falava, no texto original, em duplicar as matrículas da educação profissional. O relatório deve trazer a proposta de triplicar o número de estudantes nesta etapa. Já a meta 12 determinava o aumento da taxa de matrícula no ensino superior para 33% na população de 18 a 24 anos. Na nova versão a meta é mantida, mas com uma ressalva: 40% das matrículas devem estar nas universidades públicas. Hoje o setor privado é o responsável pela maioria (75%) dos estudantes do ensino superior.
Boa parte das emendas apresentadas ao PNE foi formulada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que participou dos processos de negociação para elaboração da nova versão do projeto. Para o presidente da entidade, Daniel Cara, o relator foi muito aberto ao debate com a sociedade e ao mesmo tempo cumpriu seu papel de negociador dentro do governo. Caso se confirme o percentual de investimento de 8,3% do PIB, Cara avalia que é uma conquista e representa um viés de alta.
“A vantagem é que se estabelece um novo piso de negociação. Não vamos aceitar nada menos do que os 8,3%”, diz. Ele ressalta, entretanto, que a entidade continuará lutando pelos 10% do PIB. Após a apresentação do relatório, os deputados da comissão terão novo prazo de apresentação das emendas. Só depois de aprovado o texto segue para o Senado que só deve iniciar a tramitação do novo PNE em 2012.

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sábado, 29 de outubro de 2011

Poesia na escola

Por Lucila Cano

Em Itapipoca, a pouco mais de 200 quilômetros de Fortaleza, uma professora respira poesia desde a infância. Na escola onde trabalha, ou nas informações pela internet, ela auxilia outros professores a fazerem da poesia um estímulo ao aprendizado.
Itapipoca é a terra natal do Tiririca, aliás, Francisco Everardo Oliveira Silva, deputado federal eleito por São Paulo em 2010, na segunda maior votação para a Câmara na história do País.
Mas não é a figura dele que está em pauta e sim a de Emiliana M. S. Teixeira, pedagoga e especialista em metodologia do ensino fundamental, graduanda em Letras-Inglês pela Universidade Federal do Ceará/Universidade Aberta do Brasil (UFC-UAB) e pós-graduanda em Mídias na Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Começar com as primeiras letras
“Desde criança, me encantei com a escrita e a leitura. Com 12 anos, ganhei um violão de minha mãe. Desde então, nunca mais parei de escrever sobre dores, paixões, alegrias, tristezas, ilusões e desilusões. Precisava falar do meu mundo e do mundo ao mundo”, conta a professora.
Perguntada sobre qual a melhor idade para se gostar de poesia, ela diz que “tudo deveria começar com as primeiras letras, pois as crianças têm grande sensibilidade e capacidade de aprendizagem. Desde o pré-escolar as crianças aprendem músicas infantis que tratam do seu dia a dia. A música é pura poesia e as crianças já têm contato com ela sem ter o conhecimento. O professor, salvo raras exceções, também não tem consciência desse ato, do trabalhar poesia, ensinar com poesia”.
Repensar a prática dos professores é o caminho para a conscientização, segundo ela, “pois a poesia pode ser trabalhada em qualquer disciplina, em qualquer momento e desde cedo. Assim, os alunos vão apreciando o belo: o balanço das folhas de uma árvore, o canto dos pássaros, a música natural do ambiente, os sons do rio, da chuva e do vento, o surgimento do sol e da lua, até atingirem um amadurecimento poético e intelectual”.
O que afasta professores da poesia
“Buscar o novo dá trabalho”, afirma a professora. “Não é fácil sair da rotina. Quando se fala em poesia, alguns se sentem analfabetos no assunto. Outros se interessam por acharem bonito e por terem alguma vocação para a escrita, o dom de brincar com as palavras e colocá-las no lugar certo. Mas a resistência é grande. Esse tema deveria ser trabalhado nos cursos de capacitação, nos planejamentos mensais. Acredito que a escola deveria realizar mais projetos envolvendo a poesia, como saraus e concursos de redação.”
“Cada professor se aprofunda naquilo em que já tem alguma aptidão ou conhecimento. Os que sentem os encantos de um belo texto sempre buscam mais sobre o fazer poético. Eles trabalham na sala de aula com dinâmicas e metodologias renovadoras, seleção de bons livros, bons autores, músicas. Também acho interessante o trabalho com os poetas da terra, para que se conheça a cultura local, pois há uma grande riqueza no folclore”, sugere a professora.
Para ela, “uma dica seria trabalhar a poesia com calma, a partir de livros mais simples e músicas infantis para, em outra etapa, avançar com os clássicos. Os alunos deveriam ser motivados a escrever sobre o que veem e o que sentem. É importante deixar que falem e produzam o que quiserem para depois, em avaliações, proporcionar a eles a melhoria dos seus conhecimentos”.
“A poesia deveria ser trabalhada de maneira interdisciplinar, porque quando penetra na mente dos pequenos leitores, aumenta a capacidade de raciocínio deles, e esse é um primeiro passo para se criar o hábito da leitura e da escrita”, complementa.
A professora Emiliana M. S. Teixeira tem trabalhos publicados em antologias, jornais e concursos no Brasil e na América Latina. Participou de obra em homenagem a Noel Rosa, na Bienal do Livro, em setembro passado no Rio de Janeiro.
Atualmente, organiza o livro “Estalos Poéticos” - uma Coletânea Literária de Itapipoca, apenas com escritores da sua cidade. Também prepara um livro de poemas e crônicas para o público infanto-juvenil.

Fonte:  http://educacao.uol.com.br
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Férias escolares em 2014 poderão coincidir com período da Copa do Mundo


A Câmara analisa o Projeto de Lei 1273/11, do deputado Cleber Verde (PRB-MA), que determina que as férias escolares em 2014 coincidam com o período dos jogos da Copa do Mundo de Futebol.
Conforme a proposta, em 2014, as férias escolares após o encerramento das atividades letivas do primeiro semestre deverão abranger todo o intervalo de tempo entre a abertura e o encerramento do evento esportivo. A medida valerá para os estabelecimentos de ensino públicos e privados.
“Não podemos deixar de propiciar que os torcedores estejam liberados para participar dessa festa que, no Brasil, ultrapassará as barreiras do esporte para se constituir em grande comemoração cívica”, argumenta o autor.
Tramitação
A proposta, que tramita em caráter conclusivo e em regime de prioridade, será analisada pelas comissões de Educação e Cultura; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Fonte:http://www2.camara.gov.br

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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A pedagogia da travessia

Por Rubem Alves
A menina que me conduzia pela Escola da Ponte na minha primeira visita me disse que na sua escola não havia professores dando aulas. Espantei-me. Nunca me havia passado pela cabeça que houvesse escolas em que professores não davam aulas. Pois as aulas não são o centro mesmo da atividade escolar? As aulas não são o método que as escolas usam para transmitir saberes? E os professores não são os portadores desses saberes? Todo mundo sabe que a missão de um professor é “dar a matéria”… As escolas existem para que as aulas aconteçam… E agora essa menininha me diz que, na sua escola, não havia professores dando aulas e ensinando saberes…
E mais: naquela escola, as crianças não ficavam separadas em espaços diferenciados, de acordo com seu adiantamento: os miúdos ficavam misturados aos graúdos… Mas a separação dos alunos segundo os seus saberes não seria uma exigência da ordem e da eficácia?
Disse ainda que não havia nem provas nem notas. Mas a avaliação… Como se pode avaliar o que foi aprendido se não há provas? Provas são instrumentos de avaliação!
E também não havia as divisões no tempo do pensamento. Nas escolas normais, o pensamento é como na televisão: a intervalos regulares, muda-se o programa. Uma campainha toca: 45 minutos, todos pensam matemática. Transcorridos 45 minutos a campainha toca de novo, os pensamentos da matemática são guardados e, no seu lugar, são colocados os pensamentos de história, até que a campainha toque de novo e os pensamentos de história sejam substituídos pelos pensamentos da biologia. Tudo em ordem perfeita, como soldados em parada, todos caminham juntos aprendendo as mesmas coisas no mesmo tempo, numa imitação das linhas de montagem. Que extraordinárias “máquinas de pensar” são os alunos, que mudam os pensamentos automaticamente ao comando de uma campainha!
Perguntei, então, à menina: “E como é que vocês aprendem?”. Ela não titubeou: “Formamos grupos de seis alunos em torno de um tema de interesse comum…”
Percebi que, naquela escola, não havia nada que se assemelhasse às “grades curriculares”. Grades… Somente um carcereiro desempregado poderia ter ideia tal. Grades. Não há opções, não há escolhas: um desconhecido colocou os saberes obrigatórios dentro de uma grade; conhecimentos “engradados”…
Por Rubem Alves
Mas a menina me havia dito que tudo se iniciava com o desejo de aprender algo, curiosidade, que nem precisava estar em qualquer grade obrigatória. Esse desejo era a alma da aprendizagem, a provocação da inteligência. Continuou:
“Convidamos um professor para ser nosso orientador…”
Pode até acontecer que o professor nada saiba sobre esse “tema de interesse comum”. Não importa. Os professores não sabem tudo. Não sabendo, pesquisam. E os alunos, ao ver o professor explorando os caminhos que o levam àquilo que ele não sabe, perceberão que o aprender não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia, como disse o educador Riobaldo.
E fiquei a pensar em como seria essa coisa a que se poderia dar o nome de “pedagogia da travessia”…
Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br
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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Construção de uma biblioteca com e para crianças menores de 3 anos

Introdução 

Tão importante quanto garantir que as crianças tenham acesso a bons livros desde bem pequenas, é organizar ambientes convidativos, aconchegantes e singulares para que elas possam usufruir das histórias em situações prazerosas de interação com os colegas, professores e famílias. A iniciativa de construir uma biblioteca na sala para e com as crianças, constitui-se uma excelente oportunidade para fomentar o contato das crianças com os livros, criar lugares mágicos, cheios de identidade, e realizar rodas de leituras. 

Anos  2 e 3 anos 

Duração  Um semestre ou ao longo do ano todo 

Objetivos  - Construir, coletivamente, uma biblioteca como lugar capaz de abrigar não somente livros, mas de suscitar rituais agradáveis de leitura;  - Apresentar o acervo de livros, promovendo o gosto pelas histórias e ampliando repertórios;  - Estreitar a relação creche-família por meio do empréstimo de livros.

Desenvolvimento 1ª etapa O primeiro passo é o professor discutir com seus parceiros - outros professores e equipe gestora - sobre os livros que pretende escolher para compor o acervo de sua futura biblioteca de sala. Essa escolha implica que o educador seja, acima de tudo, um leitor, que tenha interesse em se aventurar no mundo das histórias para conhecê-las, antes de lê-las para seu grupo de crianças. Selecionar temas como: animais, objetos sonoros, família, transportes, personagens de diferentes etnias, histórias cumulativas com várias figuras do universo do faz de conta (bruxas, piratas, lobos).  Outra dica é escolher livros coloridos, com ilustrações bem definidas, textos curtos e alguns com fotografias reais das coisas. É importante garantir um equilíbrio entre a quantidade de livros de capa dura com livros de material convencional, pois é comum que algumas páginas se danifiquem, rasguem ou que sejam levadas à boca, em razão do grande interesse e da necessidade da meninada em manipular as publicações.  Não se esqueça de incluir no acervo livros que contenham apenas imagens, pois eles favorecem a criação de histórias próprias das crianças. 

2ª etapa Deve-se organizar um lugar onde os livros ficarão expostos e acessíveis às crianças. De preferência, escolha um canto em que haja o encontro das paredes ou então aproveite a parte traseira de móveis e armários. Depois, é possível confeccionar suportes de tecido com vários bolsos, trilhos de cortina virados ao contrário para serem fixados à parede, baús de madeira pintados pelas crianças ou até mesmo aqueles caixotes de feira, que se ganharem rodinhas e cor ficam melhores ainda, uma vez que poderão ser transportados de um lugar para o outro. 

3ª etapa Uma prática que dá bastante resultado é construir um tapete com as crianças. O objetivo principal aqui é fazer com que o tapete tenha "a identidade" delas, uma vez que servirá como um indicador dos momentos de leitura, iniciando assim um ritual próprio da turma.  Separe um tecido de algodão cru de mais ou menos 2 por 2 metros. Veja a possibilidade de alguma família ou profissional da creche costurar as bordas do tecido para que o tapete não desfie conforme o uso. Convidar alguém da comunidade interna ou externa faz com que o trabalho comece a ser partilhado entre todos, dando noções para as crianças de que é importante realizar as ações de maneira coletiva. Acredite, sempre terá alguém disponível para ajudar!  De posse do tapete, organize com as crianças situações de pintura. Nessa hora vale experimentar muitas técnicas: carimbar o tecido usando esponjas e guache; desenhar as silhuetas das crianças pedindo que elas se deitem sobre o tapete, fazer a sobreposição dos contornos e, em seguida, pedir que elas pintem por cima usando tintas. Fazer intervenções com fitas crepes ou outros moldes de desenhos de interesse da turma - bichos, símbolos - para que elas passem rolinhos de pintura e deixem suas marcas sobre o tecido. Feito isso, é só esperar secar para depois começar a usá-lo como um indicador do ritual das rodas de leitura na biblioteca. 

4ª etapa Outra estratégia para delimitar o ambiente é solicitar às famílias que enviem para a instituição camisetas, vestidos ou outras roupas reconhecidas pelas crianças para que esse material seja preenchido com espuma, costurado nas aberturas e depois pintado pelas próprias crianças, transformando-se em "almofadas personalizadas". É curioso ver a criançada de posse de sua própria roupa reaproveitada como estofados para sentar-se e deitar-se enquanto os livros são apreciados. 

5ª etapa Apresente os livros da biblioteca aos poucos às crianças. Uma ideia é reunir a turma no "cantinho" do tapete diariamente em um horário específico, como, por exemplo, logo após o lanche, e apresentar alguns. Você pode ler o título e até o comecinho da história, mostrar as ilustrações e fazer perguntas sobre o que eles acham que acontecerá. Um pouco de suspense ajuda a aumentar a curiosidade da turma pelos livros. Deixe que as crianças também se envolvam com a organização dos volumes na estante. A divisão pode ser bem simples, como os gibis e revistas de um lado e os livros de outro. Outra classificação pode ser: ‘os que gostamos mais’ e os que ‘ainda não conhecemos’. Ou os livros que trazem histórias e os informativos, que explicam coisas. Os pequenos devem ter noção de que tipo de livros encontrarão em determinado lugar da estante. É importante que as crianças tenham acesso livre à biblioteca (ou ao menos a parte dela) e possam manusear os livros à vontade sob o olhar do professor - além do momento específico da leitura conduzido pelo educador com um enfoque direcionado a uma determinada prática.

6ª etapa E qual deve ser a relação do professor com a leitura? Na biblioteca, o foco é pensar na sua prática enquanto leitor. Você é, afinal, o responsável por apresentar o mundo da leitura e é o mediador entre o objeto livro, as crianças e as relações que ali se estabelecem. Nessas situações, certas estratégias e posturas são importantes, tais como: antes de iniciar a roda de leitura, o professor deve mostrar o livro para as crianças, chamar a atenção para sua capa, ler e apontar para o título, dizer quem escreveu a história, quem a ilustrou e qual o nome da editora. As crianças se interessam por essas informações, por vezes perguntam sobre quem fez o livro e se manifestam com sorrisos, gargalhadas e palmas quando o nome é engraçado!  Indagá-las sobre o que acham que a história vai contar, incentivando-as a levantarem hipóteses e anteciparem a narrativa, constitui-se um estímulo à imaginação e ao desenvolvimento da oralidade. Também é necessário ler o texto na íntegra, sem suprimir trechos, pois isso ajuda a criança a perceber que as palavras representam a fala, que há muitos jeitos de se contar e diferentes estilos e estruturas de textos (rimas, poesias, contos, lendas...). Aliás, diversificar os tipos de livros, apresentando-os diária ou semanalmente possibilita que as crianças se apropriem deles com mais liberdade e competência ao manuseá-los sozinhos.  Durante a leitura, procure caprichar nas entonações de voz que transmitam emoção, suspense, surpresa e alegria. Outra dica é ler mostrando as ilustrações. Essa estratégia os deixa mais envolvidos com a narrativa. Mas deixe para fazer os comentários sobre as ilustrações após a leitura do texto.  Uma maneira de comentá-las é imaginar que somos interlocutores de uma "obra de arte", fazendo perguntas que podem ser mais simples ou complexas, respeitando a idade da criançada. Geralmente, mostramos a ilustração e incentivamos que digam: O que vêem na imagem? O que será que o personagem fez/está fazendo/fará? O que chama a atenção? O que aparece na cena? Quais objetos aparecem? Quais as cores? Como está o personagem? Triste? Alegre? Qual será seu nome? Se repentinamente surge algo inusitado como, por exemplo, uma girafa, quem já viu esse animal? Entre tantas outras possibilidades de intervenção.  Em suma, o professor leitor é aquele que, por meio da leitura, leva a criança a conhecer novos universos, despertando de alguma maneira afetos e sentimentos, que podem ser sensações de alegria, prazer, mas também lembranças, saudades... 

7ª etapa Para o empréstimo dos livros, faça na sala um painel que servirá como fichário. Vale construir um mural, cujo fundo seja colorido pelas próprias crianças. Uma boa ideia é usar papel panamá e aquarela; outra é pintar com pincéis largos sobre cartolinas ou, ainda, espalhar tinta guache com as mãos em suportes que podem ser plastificados com contact para durar mais. Em seguida, é possível fazer alguns bolsinhos e colocar as fotos de cada criança na frente deles. Dentro de cada bolso vai uma ficha que pode ser tanto relacionada ao nome da criança e às anotações do livro que ela levará para casa, quanto o contrário: a ficha pode ser retirada do próprio livro para ser colocada no bolsinho respectivo à criança. Elas se apropriam dos combinados aos poucos. No começo, a brincadeira fica por conta de tirar e por as fichas nos bolsos, trocando-os entre os colegas. Permitir essa xperimentação inicial é saudável, para em seguida comunicar o uso correto. 8ª etapa Com relação ao início do empréstimo, combine com os pais ou responsáveis que a ideia é estreitar os vínculos entre a creche e a família por meio da leitura, assim como estabelecer um elo em que o livro seja o intermediador de histórias e outras conversas entre todos. O contrato aqui é definir um dia da semana (geralmente sexta-feira) e convidar as famílias para escolherem um livro junto com a criança, escutando suas preferências e estratégias de escolha, tais como: a história já conhecida, a capa que chama atenção, a editora, o autor, as ilustrações.  Feita a seleção, criança e família levam o livro para casa dentro de uma sacolinha de pano ou pasta, ao melhor estilo "vai-e-vem". No dia combinado para a devolução do livro, é importante que o professor garanta uma roda de conversa para saber das crianças como era a história, do que elas gostaram, quem leu para ela, em que lugar o livro foi lido etc. Nessas situações, as crianças costumam falar aspectos ligados à afetividade vivida com a leitura: "Minha mãe leu pra mim", "Foi minha irmã que contou a história do lobo", "O macaco encontrou a mamãe dele...".Avaliação  Diante do processo, o mais significativo é desenvolver permanentemente as ações e atentar-se ao movimento do grupo. Com o tempo, é possível notar que, ao estender o tapete, as crianças já se acomodam e pedem para ouvir as histórias. Também é comum que elas peguem as próprias almofadas, usando-as enquanto entram no universo mágico dos livros. Um papel importante do educador é observar como as crianças manuseiam os livros, se contam as histórias para si mesmas e para os outros, se tentam interagir com as imagens, apontando-as ou tentando pegá-las, se repetem aquilo que ouviram. Ouvir a devolutiva das famílias é outro ponto forte.  Por fim, não descuide da renovação do acervo da biblioteca. A chegada de novos livros potencializa o interesse das crianças e amplia o repertório delas.

Coordenador pedagógico da Creche/Pré-Escola Central da Universidade de São Paulo (USP)


 Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/

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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ENTREVISTA - Os pais na janela


Márcio Seidenberg


Como um estandarte, o professor Claudio Moura Castro tem iniciado suas palestras sobre a contribuição familiar na educação com a imagem de uma senhora coreana de cabelos grisalhos diante de uma janela. Ele explica que a mulher está do lado de fora da escola espiando o que se passa dentro da sala de aula porque quer verificar se os netos estão concentrados e prestando atenção ao professor ou, em seu linguajar mineiro, “olhando para a mosca”.

Esta é uma obsessão das vovós daquele país que revela, talvez de forma exagerada para os nossos parâmetros e a nossa cultura, a crença de que a educação é o alicerce para o sucesso das crianças. “Fala-se do milagre coreano, mas pouco do esforço das famílias”, escreveu Castro em artigo sobre a atitude das avós asiáticas. Já o comportamento dos pais brasileiros – eles têm em média sete anos a menos de estudo do que os filhos –, em sua avaliação, é lastimável em todas as classes sociais. A ausência no acompanhamento do dever de casa, a postura passiva em relação à escola e a falta de diálogo dentro do lar ajudam a explicar o desempenho reprovável da educação.

Por considerar a importância da família, Castro, formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, com mestrado pela Universidade de Yale e doutorado pela Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, vem “pregando” esse discurso em suas conferências e converteu, num manual de instruções, procedimentos adequados para os pais. Do Ph.D. ao sem instrução, todos podem fazer a lição de casa. Alguns são deveres prosaicos, estratégias de simples execução, a custo zero e que se baseiam em algo primordial da relação familiar: a predisposição permanente dos pais em desejar e querer o bem dos filhos.

Nesta entrevista, Claudio Moura Castro comenta o grande salto educacional das cidades de médio porte e reitera a atitude e o envolvimento contínuo da família como uma célula central que permeia todo o processo de aprendizagem dos filhos. Ele afirma que a educação brasileira precisa mesmo é de uma revolução e sobre a dificuldade dos pais em conseguir tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos, é incisivo e contundente: “sempre há tempo para o que é importante.”

Gestão Educacional: O desenvolvimento da educação rende uma discussão muito ampla e, em suas palestras, o senhor reitera a importância da parceria dos pais nesse objetivo, vem advogando o papel da família...

Claudio de Moura Castro:É um lado da equação. É como uma tesoura: uma perna só não corta. A família e a escola têm que trabalhar em comum acordo, cada uma fazendo o seu serviço. É que na família (a contribuição) tem custo zero. No caso do professor, é preciso reunir condições para mantê-lo motivado: bom salário, prêmios. Para melhorar a escola, é necessário contratar mais e melhores professores, ter mais material, ou seja, mais esforço, mais insistência. Tudo é morro acima. Na família, você não precisa dizer ao pai: “queira bem ao seu filho, ajude-o a ter uma vida melhor”. Os pais estão permanentemente motivados a querer o melhor para o seu filho. Se dermos a eles instrumentos para fazer o certo, o resultado sai de graça, (é uma ação que) não custa recursos à sociedade. Se os pais entenderem, acreditarem e praticarem teremos uma melhoria na educação.

Gestão Educacional: Sobre esse conjunto de práticas, é como se os pais tivessem que voltar para a escola...

Castro:Na Coreia e no Japão, a mãe está voltando para a escola. Os imigrantes japoneses que vieram para o Brasil eram analfabetos. Não tinha nem escola para ir. De qualquer forma, (para contribuir com o desenvolvimento escolar do filho), se um pai tem Ph.D. em educação, ajuda. Mas, se ele é analfabeto, e fica enchendo o saco do menino para estudar, também ajuda.

Gestão Educacional: Como o pai sem formação pode apoiar?

Castro:Os fatores mais determinantes são falar com a criança e vigiar o dever para casa. Fiz uma pesquisa com escolas brasileiras associadas de rede (de classe média, classe média baixa e alta) e descobri que (essas ações) homogeinizam o aluno e, dentro desse panorama, os filhos cujos pais vigiam o dever de casa são os que melhor se saem na escola.

Gestão Educacional: O senhor acredita que há diferenças em como pais pobres e ricos veem a escola?

Castro: Com certeza. O pobre é intimidado pela escola, não sabe cobrar, não sabe ajudar, não percebe a diferença de qualidade da educação. Já os ricos sabem o que fazer, podem estimular de todas as maneiras possíveis o desempenho escolar. Isso, claro, varia a cada cultura. Por exemplo, os judeus de classe média alta dos Estados Unidos exercem uma pressão brutal sobre as crianças para que rendam. Por outro lado, os pais de classe baixa dos Estados Unidos, formada por latinos e hispânicos, não se preocupam. O resultado é que a diferença de rendimento é absurda.

Gestão Educacional: E a classe média? O senhor afirma que ela não dá exemplos de interesse e de participação.

Castro: Claro que muito mais do que a classe baixa. Mas, comparativamente aos padrões internacionais, é muito ausente.

Gestão Eduacional: De acordo com a pesquisa “A participação dos pais na educação de seus filhos”, realizada pelo IBOPE em 2005, 40% dos pais dizem não ter tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos. Parece indicar indiferença ou uma dificuldade real?

Castro: Começa com a mesma percepção equivocada de que não há um problema sério de qualidade na educação da classe média. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostra que a classe alta brasileira obtém resultados piores do que os filhos de operários da Europa. Dizer que não tem tempo é o mesmo que dizer que não considera importante. Para o importante, sempre há tempo.

Gestão Educacional: Falando sobre a outra ponta da tesoura, a escola, como ela pode contribuir para a melhoria do desempenho dos alunos?

Castro:A escola tem um currículo, mas deveria fazer o que se chama de redução sociológica. Olhar aquele mundão de coisas e pensar: “o que é importante?” Na prática, ensinar a ler, a escrever, a falar, a ouvir e a resolver problemas que envolvem números. Não interessam os teoremas disso e daquilo. O importante são os fundamentos da educação, e não se iludir com as lantejoulas. É aprender a manejar a sua língua, porque isso significa ter a ferramenta para poder aprender pelo resto da vida. A consequência da educação é tornar o aluno mais educável. Você se torna capaz de se educar cada vez mais rápido.

Gestão Educacional: O senhor disse já ter apresentado em escolas a palestra “A vóvó na janela” para pais de alunos. Qual foi o resultado deste trabalho?

Castro:Os pais que comparecem são os motivados. Então estou pregando para os convertidos. Mas o desafio são os que não vão. Esse realmente é o problema.

Gestão Educacional: Como avançar? Qual o papel da escola nessa aproximação?

Castro: Água mole em pedra dura... (risos). No fundo, não tem solução mágica. A escola tem que seduzir os pais, precisa trazê-los para perto dela, conquistá-los com atividades atraentes, então os pais serão sócios da escola para mostrar bons resultados.

Gestão Educacional: Um dos pilares da reforma do ensino de Nova York, iniciada em 2002, foi a criação de uma posição de coordenador de pais em cada uma das escolas públicas da cidade. Ele exerce a função de intermediário entre o ambiente escolar e a família. O senhor defenderia um programa com este perfil para as escolas públicas brasileiras?

Castro: É possível, sim. Não parece má ideia. Mas, como todas as iniciativas nessa direção, há muitas maneiras de se chegar ao mesmo resultado. É questão de experimentar e ver o que dá mais certo.

Gestão Educacional: Pelas suas andanças pelo Brasil, quais boas práticas tem observado nas escolas?

Castro: O que está acontecendo é a revolução das escolas nas cidades de médio e pequeno portes. Há municípios que estão conseguindo fazer uma grande mudança na educação. Dentre aquelas 33 escolas que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que renderam mais (na primeira edição do estudo Aprova Brasil, em 2006), uma fica em São Brás do Suaçuí (MG), entre Lafaiete e São João del Rey. Com 5 mil habitantes. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é semelhante ao da Europa. Lá não tem indústria. Não tem comércio, só um bocadinho.

Gestão Educacional: E quando nos aproximamos das escolas das grandes cidades?

Castro:Em São Paulo, de um lado tem o Bandeirantes, o São Luís; de outro, a favela, que puxa a média para baixo. O problema da favela não é de educação, é de guerra civil. Como falar em educação se as pessoas estão preocupadas em levar uma bala perdida? É o que acontece nas favelas do Rio. É uma praça de guerra e, enquanto não pacificar, a educação vai ficar em segundo plano. Não adianta consertar apenas a educação ali, é preciso transformar tudo.

Gestão Educacional: Mas qual a função da educação no enfrentamento da pobreza e da condição de vida precária? Quais experiências de transformação social por meio da educação o senhor destacaria?

Castro: Há experiências interessantes de usar a escola para puxar a comunidade toda para cima. Nova York tem experimentos interessantes nesta linha. Mas, como regra geral, diria que, para a escola, sozinha, tentar se erguer em uma região conflagrada é muito difícil e sem sentido. Se há vontade de melhorar a comunidade, por que esperar que a escola faça todo o serviço? Faz mais sentido planejar ações com múltiplos alcances, envolvendo educação, emprego, assistência social e esportes.

Gestão Educacional: O senhor afirmou em entrevistas que a educação brasileira não está em crise, que nós precisaríamos provocar essa crise. Como?

Castro: Eu não tenho uma fórmula. Sei que é falando, insistindo e apresentando dados quantitativos e qualitativos. Uma coisa é dizer que a educação vai mal. Outra é dizer que o Brasil é o último no ranking do Pisa. Ou ainda: no quarto ano, metade dos alunos não está alfabetizada no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Estes números é que têm potência de fogo para mostrar que a educação está ruim. São eles que precisam ser repetidos.

Gestão Educacional: Vi professores saindo entusiasmados da sua palestra. Tornou-se um “legado” tentar passar para os pais a importância de estarem dentro do universo da escola?

Castro: É um trabalho que tem uma rentabilidade muito grande no sentido de que custa convencer os pais, mas o processo depois que se criou o vínculo não tem custo. Só retorno. O pai não terá que gastar mais. Talvez comprar livros, revistas. É mais a atitude.

Gestão Educacional: O senhor vem repetindo o discurso da vovó na janela desde 2004, há muito tempo...

Castro: Muito tempo mesmo. Essas coisas captam o espírito. Como as caricaturas, que realçam o exagero daquelas características do indivíduo que já são exageradas. A vovó na janela! É um absurdo, é impensável aqui botar uma velha na janela para ver se o menino está prestando atenção ou se tá olhando para a mosca. São osslogans. Esse pegou e é bom.


Texto publicado originalmente na edição de Agosto de 2010 da revista Gestão Educacional

Fonte: profissaomestre.com



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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Até 2015, Coreia do Sul deve substituir cadernos por tablets

Planos do Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia do país incluem a criação de um sistema de ensino pela nuvem.
O Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul anunciou na última quinta-feira (30 de junho), que até 2015 todas as escolas do país devem substituir cadernos de papel por dispositivos eletrônicos. Para possibilitar a criação de um ambiente interativo no qual os alunos podem estudar melhor e por mais tempo, o governo deve gastar mais de US$ 2,4 bilhões de dólares.
Os novos livros de ensino digitais devem ser introduzidos aos poucos nas escolas e, em uma primeira etapa, vão conviver com os cadernos e livros de papel. Segundo representantes do ministério, os dispositivos vão conter todo o conteúdo dos materiais tradicionais, com a inclusão de conteúdos multimídia e uma área de perguntas frequentes, com o objetivo de ajudar alunos a compreender melhor as lições.
Os estudantes também vão contar com um sistema baseado na nuvem, que poderá ser acessado a partir de qualquer lugar através de um tablet pessoal. Para tornar isso possível, o Departamento de Educação, Pesquisa e Informação do país ficará responsável pelo estabelecimento de um imenso servidor, além da construção de uma rede Wi-Fi que abranja todas as escolas.
Ensino digital
Segundo o Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia, ficará a cargo de cada escola decidir quais os materiais de ensino utilizados, estabelecendo quais assuntos serão passados aos alunos das diferentes séries. A expectativa é que a transição se dê de forma simples, já que muitas das crianças do país cresceram acostumadas ao meio digital.
O governo do país também planeja providenciar tablets de forma inteiramente gratuita para famílias de baixa renda, além de disponibilizar online todo o conteúdo das aulas. Assim, estudantes que perdem algum dia de aula poderão recuperar lições perdidas de forma facilitada. O ministério afirma que isso será especialmente importante para o ensino de crianças que sofrem com doenças graves e, devido a isso, passam por longos períodos de interação.
Fonte: TecMundo
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pais, filhos e "amigos virtuais" dos filhos

Por Içami Tiba

Sempre foi, é e deverá ser uma preocupação educativa dos pais saberem com quem andam os seus filhos.
Não tem como os pais tentarem terceirizar a educação dos filhos, pois educação é algo maior do que simplesmente amar de paixão, orientar, prover, agradar, ser amigo, perdoar, cuidar, ensinar, divertir, rezar, garantir a segurança, responsabilizar-se por eles. Educar é preparar hoje o cidadão do futuro.
Atualmente não é raro encontrar pais que delegam à escola a educação dos seus filhos.  Quando um aluno “apronta” e a escola convoca seus pais para uma reunião, estes geralmente atribuem a responsabilidade à escola e cobram dela medidas educativas. 
Pela Teoria Psicodramática, criada por Jacob Levi Moreno (1889-1974), os papéis são complementares ( pai/filho - mãe/filho - psiquiatra/paciente - motorista/passageiro -  professor/aluno - avô/neto - avó/neto - patrão/empregado - chefe/subordinado - tio/sobrinho) ou idênticos ( amigo/amigo - colega/colega - irmão/irmão).
A única complementação biológica correta é a complementação pais-filho(s) e não professor/filho (mesmo que seja filho do professor, o papel complementar em ação é o professor/aluno)  É esta complementação que a Lei segue e se não houver pai ou mãe, a Lei determina um adulto ou instituição que possa se responsabilizar por ele, enquanto for considerado menor ou incapaz.
Para corroborar este fato vem a realidade mostrando que quando um jovem por qualquer motivo vai à delegacia, ou pronto-socorro, ou necrotério, nenhum professor, nem diretor, nem motorista jamais foi ou é chamado. Os chamados são sempre os pais. ...e mais, filhos são para sempre enquanto para a escola o aluno é um transeunte curricular.
Portanto, não há saídas. A educação na formação de valores cidadãos é da responsabilidade dos pais. Os pais têm de controlar tudo o que os filhos recebem, seja o que for: alimentos, conhecimentos, pessoas à sua volta etc. Quanto mais vulneráveis, mais os filhos devem ser controlados. Quanto mais responsáveis, maiores autonomias terão.  Não se entrega a direção de um carro pelo simples desejo de um filho querer dirigir. Assim também os pais têm que saber com quem seus filhos estão se relacionando - presencial ou virtualmente. Muitos pais fornecem Internet para seus filhos e autorizam-nos a usá-la livremente. Assim, os filhos recebem, na intimidade da sua casa, pessoas estranhas que se fazem conhecidas virtuais na intimidade de suas famílias. Não raro, estes estranhos ganham mais força que os seus próprios pais e pedem sigilo para suas ações nem sempre boas, ou melhor, geralmente, malévolas, pois para as boas não necessitariam de alianças sigilosas. É assim que pedófilos conseguem seduzir crianças que se escondem dos seus próprios pais. Eles se mostram muito mais agradáveis, afetivos, interessados, generosos, dedicados do que os adultos que têm em casa...
Não confundir negligência dos pais com o respeito à individualidade do filho.  Soltar um incapaz no mundo virtual é o mesmo do que soltar uma criança sozinha numa feira livre, num festival musical, num circo em dia de apresentação...
Ser pai amigo é negligenciar a educação, negar ser guia, mentor e responsável pelo filho, pois não há complementaridade saudável no relacionamento amigo/filho nem pai(mãe)/amigo e se amigo tem amigo, filho tem que ter pai (mãe). 

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros

Fonte: http://educacao.uol.com.br


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