A professora do ensino fundamental Polyana Andreza da Silva Costa tinha um cansaço imenso no final do expediente. As dores de cabeça eram constantes, além da dificuldade para conciliar o sono. Na sala de aula, sentia o coração disparar, um aperto no peito e falta de ar. Também sofria com crises de choro. Quando chegava à escola, ao invés de ficar alegre por estar com seus alunos, era dominada por uma tristeza e vontade de que as horas passassem logo para poder, finalmente, voltar para casa. Ao invés de melhorar, esse estado foi só piorando até que a educadora chegou ao ponto do esgotamento completo. A docente, que sempre tinha sido uma profissional dedicada e competente, havia perdido totalmente o prazer em exercer o seu ofício. E, mais do que isso, estava doente por causa do trabalho.
A cronificação do estresse ocupacional, o problema vivido por Polyana, é chamada de síndrome de burnout, que começou a ser estudada na década de 1970, depois que o termo foi usado pelo psiquiatra de origem alemã Herbert Freudenberg (radicado nos Estados Unidos) para definir o esgotamento profissional. Burnout significa, em inglês, “queimar por completo”, atingir a combustão plena, ou seja, de forma menos literal, chegar a um estado de exaustão máxima. O burnout está diretamente relacionado à vida profissional e quando ocorre é altamente incapacitante. “A pessoa já se desgastou a tal ponto que não tem mais energia para continuar suas atividades laborais. O burnout é sempre ligado ao mundo do trabalho”, afirma a professora adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), coordenadora do curso de pós-graduação de Psicologia em Saúde, Ana Maria Teresa Benevides-Pereira, líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Estresse e Burnout (Gepeb) e uma das maiores pesquisadoras e autoridades sobre o assunto no País.
A síndrome de burnout, na concepção das psicólogas sociais norte-americanas Christina Maslach e Suzan Jackson – criadoras em 1981 do Maslach Burnout Inventory (MBI), teste para diagnóstico do problema –, é caracterizada como um processo multidimensional, constituído por sintomas relacionados à exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal no trabalho. A despersonalização, ou desumanização, como também é chamada, consiste no comportamento defensivo das pessoas com burnout, por meio do desenvolvimento de atitudes desprovidas de interesse e envolvimento emocional com os outros, marcadas, com frequência, por reações de apatia, cinismo e ironia. Muitos são os sinais físicos, psicológicos e comportamentais que podem estar relacionados à síndrome. “No aspecto biofisiológico, os sintomas mais comuns são: cansaço sem causa aparente, crises constantes de enxaquecas, dores andarilhas (daquelas que percorrem várias partes do corpo), instabilidade intestinal, alteração do sono e queda na libido, entre outras alterações não visíveis, apenas detectadas por exames médicos específicos, segundo cada pessoa, conforme lecionam especialistas médicos”, explica o psicanalista e especialista em Psicopedagogia Chafic Jbeili, que também coordena e ministra cursos de pós-graduação em Educação. O especialista acrescenta que em relação aos fatores psicossociais observam-se sinais muito parecidos com o quadro depressivo, como irritabilidade, ceticismo, indiferença e instabilidade de humor, entre outros (leia abaixo os principais sintomas).
Estudos revelam que os profissionais das áreas de saúde e educação são mais vulneráveis à síndrome de burnout. Entretanto, é difícil encontrar dados abrangentes sobre a incidência do problema entre os professores brasileiros. Um dos estudos com maior amostragem foi realizado em 1999 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e pelo Laboratório de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), coordenado pelo doutor em Psicologia Social Wanderley Codo, com 39 mil profissionais de diversas redes estaduais. Atualizada em 2002, segundo informações de Chafic Jbeili, a pesquisa incluiu professores de redes municipais e particulares e demonstrou que 46% dos educadores de todos os sistemas de ensino de nível básico enfrentam exaustão emocional, seja moderada ou alta, e 32% têm baixo envolvimento no trabalho, fatores considerados relevantes para o diagnóstico do burnout. Em um estudo com 499 professores de escolas públicas e particulares do interior do Estado do Paraná e da região metropolitana de Curitiba, coordenado pela professora Ana Benevides-Pereira, com dados coletados em 2004 e divulgados em 2010, constatou-se que 43,8% dos docentes apresentavam elevada exaustão emocional, sendo que 23,8% também revelaram altos níveis de desumanização e 31,4% não se sentiam realizados com suas atividades laborais. Nesse grupo, 65,9% dos participantes relataram o desejo de mudar de profissão.
Afastamentos
Além da falta de dados específicos sobre a frequência do burnout na carreira docente, outro fator que colabora para a dificuldade de traçar um panorama sobre a gravidade do problema é que os registros médicos dos afastamentos não contemplam o termo porque a síndrome não está catalogada dessa forma no Código Internacional de Doenças (CID); existe apenas a denominação “esgotamento” (sob o número Z73-0). “No Brasil, os afastamentos recebem registros diversos, menos burnout, pois esgotamento, somente, não caracteriza a doença e os dados sobre este tipo de afastamento tecnicamente não servem para corroborar as estatísticas sobre incidência de burnout”, esclarece Jbeili.
Todavia, é evidente a prevalência dos problemas de saúde nos afastamentos dos profissionais da educação, com importantes índices de estresse e burnout, segundo o artigo Burnout docente e seu reflexo no ensino, apresentado por Ana Benevides-Pereira no X Congresso Internacional de Educação (Educere), realizado no ano passado na PUC-PR. Dados da Gerência de Saúde do Serviço de Saúde e Perícia Médica em Belo Horizonte (MG), citados no mesmo trabalho, exemplificam esse contexto. Dos funcionários afastados por motivo de saúde no período de maio de 2001 a abril de 2002, 84% eram educadores, dentre os quais predominavam os transtornos mentais. Essa pesquisa foi realizada por Sandra Maria Gasparini, Sandhi Maria Barreto e Ada Ávila Assunção, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Muitos fatores ajudam a explicar a vulnerabilidade dos professores aos problemas relacionados ao estresse, como sobrecarga de trabalho, baixa remuneração, indisciplina dos alunos, violência na escola, estrutura precária, falta de apoio da direção da escola e dos pais dos estudantes, entre outros. “Creio que o desprestígio da profissão é uma coisa que vem aumentando dia a dia. (...) A sociedade vem cobrando cada vez mais competências do professor, não só relativas ao próprio conhecimento que ele tem, mas também outras que muitas vezes ultrapassam a capacidade dele. São muitas cobranças e pouco reconhecimento, inclusive financeiro”, discorre a líder do Gepeb.
Todos esses elementos, além de um episódio de ameaça de um pai e de violência verbal de uma aluna, contribuíram para que a professora Polyana Andreza da Silva chegasse à exaustão máxima e tivesse que ser afastada temporariamente da sala de aula. No caso dessa educadora, a cura para o problema consistiu em se distanciar do trabalho. Apesar de acreditar que não seria mais capaz de retomar suas atividades como docente, Polyana reencontrou o prazer de lecionar em uma escola em outra cidade (conheça toda a história da educadora lendo a entrevista a seguir). Essa é uma característica bastante particular do burnout: os afetados pela síndrome melhoram quando se afastam do ambiente profissional, diferentemente, por exemplo, dos pacientes em depressão. Porém, ao contrário de um episódio isolado de estresse, basta o professor cogitar a retomada do seu trabalho para que o burnout reapareça se não tiver sido tratado.
Segundo Chafic Jbeili, o tratamento da síndrome se faz a partir da terapia médica e psicológica. Medicamentos para sintomas ligados à depressão e à ansiedade, por exemplo, podem ser necessários em alguns casos. O tempo médio de tratamento pode variar de um mês a dois anos ou até mais, dependendo do estado geral de saúde de cada paciente e da disciplina em seguir a orientação dos especialistas. “Quanto mais resistir e demorar para buscar ajuda, pior fica oburnout, podendo surgir comorbidades como insônia e até diabetes. No entanto, quanto antes for identificada e tratada, mais rápida e tranquila será a recuperação”, ressalta o especialista.
Além do burnout não estar catalogado no CID, nem sempre é simples identificar o problema. Para a psicóloga Márcia Regina Biscaia Virtuoso, gerente da área de Psicologia e Serviço Social do Departamento de Saúde Ocupacional, da Secretaria de Recursos Humanos da Prefeitura de Curitiba (PR), é difícil que o estresse e outras disfunções estejam relacionados apenas às condições de trabalho. “Não é só laboral. Nas avaliações que fazemos com os servidores percebemos que o adoecimento psíquico não é apenas resultado do trabalho, mas de uma conjuntura de fatores, como condição socioeconômica e problemas familiares.”
As doenças mentais e comportamentais, conhecidas como “CID F” (porque estão relacionadas nessa letra no Código Internacional de Doenças), são a primeira causa de afastamento dos trabalhadores em educação da rede municipal de ensino da capital paranaense. Para lidar com essa realidade, existe, desde 2005, o Programa Saúde Mental do Servidor, que em todas as suas atividades inclui orientações para o gerenciamento do estresse, além de grupos psicoeducativos, voltados exclusivamente para os educadores. Para a psicóloga Margareth Cristina Bolino, gerente de Saúde Ocupacional do Núcleo de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, que coordena os trabalhos realizados com os servidores da educação, a profissão docente é estressante porque envolve a formação humana, mas o professor precisa estar preparado para lidar com o cenário atual e ter flexibilidade para se adaptar às mudanças. “O professor tem que ter essa predisposição para ficar menos suscetível ao estresse.”
Gestão
Um aspecto salientado no artigo de Ana Benevides-Pereira e que deve ser levado em consideração é a relação entre ambiente organizacional e a síndrome de burnout. Apesar de estarem sob as mesmas condições de determinado sistema de ensino, algumas escolas apresentavam, nos estudos analisados, significativos casos de burnout enquanto outras não possuíam nenhuma ocorrência. “Apesar de os professores serem regidos por normas comuns, desenvolverem o mesmo tipo de trabalho, o modo de gestão, assim como o suporte recebido pela direção e colegas de trabalho, bem como o clima organizacional, são fatores que devem ser observados”, escreve a professora no artigo. Por outro lado, o inverso também pode ser verdadeiro: em um mesmo local de trabalho alguns professores adoecem enquanto outros continuam motivados com seu ofício, o que, segundo a especialista, teria relação com constructos como resiliência e comprometimento (engagement), características passíveis de serem desenvolvidas. Os especialistas afirmam que não existe remédio mais eficaz contra a síndrome do burnout do que a prevenção, que significa aprender a controlar o estresse, manter uma rotina saudável, buscando evitar o excesso de trabalho, não deixar de lado as atividades de lazer, dividir os problemas com os colegas e procurar tratamento quando alguns dos primeiros sintomas aparecerem, não postergando solicitar ajuda para que o quadro não se complique. O importante mesmo é não deixar o “copo transbordar”.
Mudança de escola e cidade ajuda professora a superar burnout
A professora de ensino fundamental I Polyana Andreza da Silva Costa vivenciou por dois anos, a partir de 2004, os sintomas da síndrome de burnout. Mas o diagnóstico só veio em 2006 como uma “estafa” em último grau, nas palavras do médico, juntamente com a necessidade de se afastar do trabalho tamanho o desgaste que ela havia alcançado. Ela era docente da rede pública de uma capital nordestina e o acúmulo de problemas já bastante familiares a muitos professores brasileiros, somado à falta de apoio da direção, foi o desencadeador do processo. Uma mudança para outro contexto social trouxe para a professora a cura para o problema e a redescoberta do prazer em exercer seu ofício novamente. Nesta entrevista, a experiência vivida pela educadora, detalhada com grande sinceridade, ajuda a entender melhor a síndrome de burnout e a refletir sobre as possíveis formas de evitar o problema.
Profissão Mestre: Como você percebeu que estava com a síndrome?
Polyana Andreza da Silva Costa: Eu sentia um cansaço imenso no final do expediente, dores de cabeça constantes; na sala de aula sentia meu coração disparar, aperto no peito, tinha crises de choro, tinha a sensação de falta de ar; em casa demorava a dormir, sonhava com os alunos (com a indisciplina, com determinadas situações que aconteciam na sala, com a falta de respeito), só falava no trabalho com amigos e familiares. Vivia estressada, irritada, preocupada com os alunos, com o que fazer para mudar a situação. Porém, mesmo me sentindo assim, eu continuava tentando fazer meu trabalho da melhor forma possível. Eu não queria que o que eu estava sentindo afetasse meu trabalho, mas afetava. Mesmo gostando dos alunos, eu não sentia mais alegria em estar com eles, pelo contrário, sentia uma tristeza muito grande quando chegava à escola e uma vontade imensa de que a hora passasse e chegasse o momento de ir para casa. A sensação era de que eu estava me arrastando a cada dia, sobrevivendo, buscando fôlego.
Profissão Mestre: Por que você acha que foi acometida com o burnout?
Polyana: No ano de 2004, eu já lecionava em dois turnos. No período da tarde, a direção da escola me deu uma turma de primeiro ano na qual 75% dos alunos eram meninos e 25% meninas, ambos pertencentes a uma faixa etária cujas idades variavam entre 6 e 14 anos. Além dos problemas de aprendizagem, os alunos apresentavam graves problemas de indisciplina, de falta de respeito, de violência entre eles, de violência familiar e de vulnerabilidade social. Muitos dos seus pais eram usuários de drogas, estavam envolvidos com prostituição e vários tipos de crimes. Com essa realidade, eu me vi com o dever – o qual sempre me era lembrado pela direção da escola – de alfabetizar alunos que estavam em níveis muito diferentes, ensinar valores, manter a disciplina em sala de aula, desenvolver diversas estratégias de ensino a fim de proporcionar sua aprendizagem, motivar alunos que muitas vezes chegavam à escola querendo quebrar tudo e bater em quem encontrassem pela frente, e [também tinha que] tentar construir um ambiente cordial dentro da sala de aula. Lembro-me bem de dois fatos que aconteceram naquele ano. Um dia, recebi um bilhete de um pai (de três irmãos que estudavam nessa sala de aula), que estava preso por estupro e assassinato, dizendo-me para ter mais cuidado com seus filhos porque, apesar de estar preso, estava sabendo que eu havia me queixado para a mãe desses adolescentes sobre seus comportamentos agressivos em sala de aula. Eu levei o caso para a direção, que mal prestou atenção e disse que eu ignorasse a situação. Depois de algum tempo, uma dessas adolescentes, chateada porque o recreio já havia sido encerrado e eu havia pedido que ela entrasse na sala de aula, simplesmente começou a gritar e a desferir injúrias e palavras de baixo calão contra mim. Eu me vi sozinha, pois não tive apoio da direção, a qual, além de não ter me ajudado, tinha o infeliz hábito de fazer piadas de mau gosto com alguns professores. No final desse ano, eu havia conseguido alfabetizar 70% da turma, porém terminei o ano extremamente cansada, esgotada e com medo – medo de algumas ameaças que havia sofrido e de, em 2005, lecionar numa turma semelhante a essa.
Profissão Mestre: E o que o aconteceu em 2005?
Polyana: Eu tive duas turmas de primeiro ano, com muito menos problemas de indisciplina e violência, mas ainda assim parecia que o cristal havia sido quebrado. Eu sempre fui muito dedicada, sempre gostei de lecionar para crianças, mas acredito que sentia um cansaço físico e mental muito grande porque eu queria conseguir terminar o ano com todas ou quase todas as crianças lendo, escrevendo e conseguindo conviver cordialmente. Então eu fazia de tudo para conseguir esses resultados, não sentava nem 10 minutos para descansar. (...) No final do ano, tive quase 80% de alunos alfabetizados, mas estava cada vez mais cansada. Trabalhava nos sábados e domingos em casa, preparando e corrigindo atividades, sonhava com os alunos... No início de 2006, eu lecionei em duas turmas para alunos da mesma faixa etária (6 e 7 anos), mas também com problemas de aprendizagem, indisciplina, violência familiar, alunos com distúrbios, enfim, problemas que eu já conhecia bem. Para finalizar, acredito que se somaram aos problemas já citados: o excesso de trabalho, a falta de apoio da direção (além do assédio moral que sofri e presenciei colegas sofrerem), a falta de recursos didáticos, as salas de aulas com número excessivo de alunos, o salário baixo e a ausência dos pais na vida escolar e na educação dos filhos. Os efeitos de tudo isso na minha saúde foram os fatores que desencadearam em mim a síndrome de burnout.
Profissão Mestre: Como foi o seu tratamento para superar o burnout?
Polyana: O psiquiatra não me receitou remédios, calmantes nem terapia. Ele disse: “O que você precisa é sair desse trabalho, você precisa sair desse ambiente!”. Então eu falei que não poderia abandonar meus empregos, eu precisava trabalhar. Ele me concedeu um mês de licença e me disse: “Você precisa descansar, afastar-se dessa realidade, sair desse contexto; o remédio é esse!”.
Profissão Mestre: Você conseguiu se livrar do problema?
Polyana: Depois de dois meses de licença médica, meu esposo foi transferido para Mato Grosso do Sul e eu solicitei licença sem vencimentos por dois anos, na capital nordestina onde eu trabalhava. Chegando à cidade em que iríamos morar, eu falei para meu esposo que trabalharia com tudo, menos educação. Mas, como o ofício de mestre parece perseguir aqueles que são professores por amor, porque gostam e acreditam que nasceram para lecionar, eu acabei fazendo quatro concursos para trabalhar como professora nessa cidade sul-mato-grossense, sempre dizendo que se eu não gostasse do trabalho o abandonaria. Passei nos quatro concursos, optei por dois e redescobri o amor e o prazer pelo ensino, pela sala de aula, pelos alunos, pela profissão. Acredito que vários motivos contribuíram para que eu superasse a síndrome de burnout, dentre eles: a valorização do professor, pois nessa cidade os professores possuem um maior status social, um maior respeito por parte da população e uma maior valorização salarial; o apoio da direção, [porque lá] tive diretores que me apoiavam, que confiavam no meu profissionalismo, que elogiavam o meu trabalho e que me davam total liberdade para tomar as decisões que eu acreditava serem as melhores para os alunos; a colaboração dos pais, pois a participação da família tanto na educação dos filhos como no acompanhamento das tarefas escolares é fundamental para o desenvolvimento dos estudantes; e o contexto social, [que melhorou, pois] houve a mudança de moradia de uma cidade onde os níveis de violência eram altíssimos para uma cidade mais calma, onde tais níveis eram muito menores – e consequentemente, os casos de violência entre os alunos e destes para com os professores ocorriam com menos frequência –; nessa nova realidade, as condições de trabalho eram melhores – por exemplo, as aulas de arte e de educação física para as séries iniciais eram ministradas por professores especialistas, o que possibilita ao professor regente ter mais tempo para planejar suas aulas. Enfim, acredito que mudanças no contexto social, na própria organização e administração da escola e nas relações interpessoais são fundamentais para que o professor supere a síndrome de burnout e redescubra o prazer de lecionar e a alegria de estar em seu ambiente de trabalho, principalmente com seus alunos.
Profissão Mestre: O que precisa ser feito para se evitar que esse problema atinja mais professores?
Polyana: Acredito que os professores devem ter um espaço para falar sobre o que os aflige; poderia ser útil a presença de psicólogos dentro da escola. O foco do problema deve ser identificado e medidas devem ser adotadas para solucioná-lo. Quando o trabalho começa a causar tristeza, o professor deve ficar atento para que esse sentimento não piore e não se torne uma constante. Ele deve se questionar sobre o que está causando essa insatisfação. Penso que deveria haver políticas que tivessem como focos a saúde mental do professor, as relações interpessoais na escola, a socialização dos atores escolares, a prevenção da violência escolar, a otimização do clima escolar, etc. Penso também que a própria escola (professores, coordenação e direção) deve pensar em estratégias que possam contribuir para prevenção e redução do adoecimento de professores.
Sinais de alerta para a síndrome de burnout
Sintomas somáticos (físicos):
- Exaustão (esgotamento físico temporário);
- Fadiga (capacidade física ou mental decrescente);
- Dores de cabeça;
- Dores generalizadas;
- Transtornos no aparelho digestório;
- Alteração do sono;
- Disfunções sexuais.
Sintomas psicológicos:
- Quadro depressivo;
- Irritabilidade;
- Ansiedade;
- Inflexibilidade;
- Perda de interesse;
- Descrédito (sistema e pessoas).
Sintomas comportamentais:
O professor:
- Evita os alunos;
- Evita fazer contato visual;
- Faz uso de adjetivos depreciativos;
- Dá explicações breves e superficiais aos alunos;
- Transfere responsabilidades;
- Faz contratransferência, ou seja, reage às provocações em papéis distintos do papel de educador;
- Resiste a mudanças.
Consequências mais comuns:
- Apatia ou cinismo nos diálogos;
- Dificuldade em desempenhar papéis;
- Diminuição dos contatos sociais;
- Desvalorização do lazer;
- Negligência nos cuidados pessoais;
- Automedicação (agrava o quadro);
- Resistência em buscar ajuda.
Fonte: Cartilha Burnout em Professores, elaborada pelo psicanalista e especialista em Psicopedagogia Chafic Jbeili e disponibilizada pelo Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região.
Texto publicado na edição de fevereiro de 2012 da revista Profissão Mestre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário