segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Aumento do Ideb não está diretamente vinculado à aprendizagem, afirma especialista em educação

“O aumento do Ideb não está diretamente vinculado à aprendizagem. As crianças são mais aprovadas não exatamente porque sabem ou se desenvolveram mais, mas porque o sistema começa a garantir um fluxo escolar melhor.” Essa é a avaliação da coordenadora da área de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna, Inês Miskalo, a respeito dos resultados do Ideb 2011, divulgados nesta terça (14) pelo Ministério da Educação (MEC).

Segundo ela, para poder dizer que o país avançou na qualidade da educação, seria necessário  elevar os índices de aprendizagem medidos pela Prova Brasil e pelo Saeb, o que ainda não ocorre de forma satisfatória. Inês avalia que o aumento do Ideb deve-se às melhores taxas de aprovação dos estudantes.”O fluxo escolar pode estar melhorando, mas não necessariamente com bom desempenho”, pondera.
Leia entrevista completa:
Portal Aprendiz – Como a senhora avalia os resultados do Ideb 2011 divulgados pelo MEC?
Inês Miskalo – A evolução deve-se mais ao fluxo escolar, já que os resultados da Prova Brasil estão estabilizados. Não existe uma melhoria do aprendizado do aluno. Portanto, o aumento do Ideb não está diretamente vinculado à aprendizagem. As crianças são mais aprovadas não exatamente porque sabem ou se desenvolveram mais, mas porque o sistema começa a garantir um fluxo escolar melhor. Para poder dizer que o país avança você tem que aumentar o índice de aprendizagem medido pela Prova Brasil e Saeb. As mudanças não representam um salto de aprendizagem. É necessário olhar para os dados que mostram o quanto a criança está ou não lendo melhor, usar a aprendizagem, ou seja, o desenvolvimento no dia a dia.
Aprendiz – Ao que se deve o aumento da aprovação, se não há aprendizagem?
Inês – Alguns fatores: um ciclo que não reprova – e não que reprovar seja necessariamente a solução, não se trata disso –, ou que aprova a criança sem ela saber, ou ainda os casos de abandono da escola no meio do ano por parte daquele aluno que já sabe que será reprovado, por exemplo. É o problema da educação cumulativa. São aquelas dificuldades que a criança traz desde os anos iniciais, e que a leva a concluir a formação com deficiências. Ela vai ser aprovada, mas leva as lacunas da formação inicial, que são reveladas lá nos anos finais. Gera-se um não desenvolvimento cumulativo. Estamos num processo de desenvolvimento da educação básica sem garantir qualidade para esses alunos que transitam nesses anos. O fato do aluno ter chegado ao final do ensino médio não significa que tenha um conhecimento compatível com o que se espera de um aluno daquele ciclo.
Aprendiz – E em casos de aumento do Ideb?
Inês – Muitas vezes, quando o Ideb cresce, é porque os estudantes estão sendo menos reprovados, e não necessariamente aprendendo mais. Pode estar ocorrendo uma exclusão dos que estão piores e aprovação dos que estão melhores, por exemplo. Podemos chegar a uma estagnação do Ideb. O fluxo escolar pode estar melhorando, mas não com bom desempenho. Só que o fluxo é limitante, uma hora deixará de crescer. Já o desempenho, não tem limite. É esse que não conseguimos ainda atacar.
Aprendiz – Como os dados podem aprimorar a aprendizagem em sala de aula?
Inês - Precisa pegar a prova Brasil, verificar quais são os descritores, isto é, quais competências foram avaliadas, ler o resultado com o espírito do diagnóstico para poder saber onde se concentram as dificuldades e o que pode ser feito na sala de aula para superar, acompanhando o histórico de cada local em que a prova foi aplicada e sua evolução ao longo do tempo. Cada escola é uma escola, cada turma é uma turma. É preciso reconhecer as especificidades locais. O Ideb não pode ser visto como um fim, mas como um meio diagnóstico para mudar a realidade. Se for visto como rankeamento não serve pra nada. Passada essa fase de divulgação, é necessário que o país se debruce sobre os dados. É preciso ver onde houve crescimento sustentável, se ele é significativo para justificar que na próxima edição esperemos por um resultado diferente – ou não. Essa é a pergunta que tem de ser posta. O país deve observar se esse desempenho mostrado é consistente.
Fonte: portal.aprendiz.uol.com.br



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