A educação no Brasil é um tema que divide opiniões, sejam elas abalizadas ou fruto do senso comum. Professores, alunos, pesquisadores e todos aqueles que se propõem a discutir o tema têm suas ideias, teorias e críticas específicas, algumas mais plausíveis, outras nem tanto. O que se nota, entretanto, é que por mais heterogêneos que sejam, estes pontos de vista acabam quase sempre levando a uma conclusão comum: a de que a qualidade do ensino público praticado no país ainda está aquém da expectativas da sociedade.
Uma rápida visita às escolas é suficiente para constatar a insatisfação tanto dos professores quanto dos alunos. Reclamando da desvalorização, os primeiros dizem que são os únicos responsabilizados pela má qualidade da educação. "Professor não é milagreiro. Ele trabalha com o que tem, faz o melhor com aquilo que lhe é oferecido, porém, isso não é o suficiente", diz a professora de química Karen Avelar. Em sua opinião, a situação não vai mudar enquanto a educação não seja encarada como prioridade para os governos.
Já a estudante Ketlyn Ohana de Sousa revela que se sente desestimulada a prestar atenção nas aulas por conta da maneira com a qual os conteúdos são abordados pela maioria dos professores. "Geralmente eles dão aquela aula chata em que a gente escuta, copia e pronto. É muito cansativo", diz. Para Fernanda Santos da Silva, o problema é não entender a necessidade de se aprender aquilo que é passado em sala de aula. "Tem coisa ali que a gente nem sabe se vai precisar um dia na vida", afirma.
Para melhorar a educação pública, basta aumentar o salário do professor
A secretária adjunta da SEEC, Adriana Diniz, também é favorável ao aumento das verbas para educação. Apesar de acreditar que 10% dos recursos do PIB trariam muitos benefícios ao setor, ela também concorda com a proposta prevista na nova versão do Plano Nacional de Educação, que prevê a destinação 7% do PIB para o setor. "Sou da opinião de que quanto mais investimentos para educação, melhor. Contudo, tenho de reconhecer que, ainda que abaixo das expectativas, 7% do PIB é um valor bastante interessante, já que é consideravelmente superior ao valor aplicado hoje, que está entre 4 e 5%". Para a professora Márcia Gurgel, para resultar em benefícios práticos, o aumento do investimento teria que ser direcionado a vários fatores que compõem a educação, entre eles o pedagógico, o didático, o da formação de professores, o da melhoria dos salários e das condições da escola.
A destinação de mais verbas para a educação é o fator determinante para a melhoria do ensino público no país. Essa é a opinião compartilhada pela pesquisadora do IDE, Cláudia Santa Rosa, pela diretora do Centro de Educação da UFRN, Márcia Gurgel, e pela secretária adjunta da SEEC, Adriana Diniz. Crentes de que mais investimentos possibilitarão o desenvolvimento da rede pública, as três pesquisadoras apoiam a aplicação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país na área educação."O financiamento deve ser incrementado porque sem recurso nós não teremos como equipar os centros de ensino e promover a valorização dos professores. Isso resultaria em uma melhor qualidade do ensino", afirma Cláudia.
O aumento de investimentos na contribui para melhoria do aprendizado dos alunos
Verdade 4
Na avaliação da pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa, família e escola devem dividir igualmente as responsabilidades com a educação da criança, para que nenhum seja sobrecarregado. "Nem os pais devem deixar todo o repasse de valores para escola e nem a escola deve transferir para a família a questão do ensino de conteúdos curriculares. O que deve ocorrer é uma parceria entre estes entes", disse.
De acordo com ela, é preciso abandonar essa concepção de que é a família a única responsável pelo repasse de valores morais. "A escola pode e deve incentivar nos alunos comportamentos respeitosos de condutas. Por ser um ambiente que promove a socialização, o estabelecimento de ensino tem toda a capacidade de embutir nos alunos os conceitos de disciplina, cooperação, respeito e diversidade", afirmou, acrescentando que, é através deste trabalho que o colégio garantirá a formação de cidadãos conscientes e com habilidade para viver em sociedade.
Os valores provenientes da família e o conhecimento proporcionado pelas escolas são fatores complementares que contribuem para uma boa formação educacional, pessoal e intelectual, por isso a união destas duas instituições é fundamental o desenvolvimento da criança e do adolescente. Essa é a opinião da diretora do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), professora Márcia Gurgel, que defende o fortalecimento do laço entre família e escola.
Parceria entre família e escola é importante para o desenvolvimento do estudante
Verdade 3
Como agente propagador do conhecimento, o professor tem um papel determinante para a mudança desta realidade. O educador, contudo, não deve ser o único responsável. "É claro que profissionais criativos e comprometidos têm mais condições de criar aulas interessantes. O que é importante lembrar, entretanto, é que este educador também precisa ter o estímulo para se dedicar, planejar, e, ganhando salários abaixo do esperado e sem condições de trabalho fica difícil fazer isso", diz.
Tomando por base as questões referentes aos encaminhamentos didáticos - pedagógicos, pode-se concluir que um bom número das instituições de ensino não acompanhou o desenvolvimento vivido pelo mundo nos últimos anos, e ainda permanecem estagnadas, isoladas. "Quando o ambiente de ensino permanece desconectado da realidade, desperta pouco interesse do aluno, que prefere buscar conhecimento e informação em fontes mais dinâmicas", revela Cláudia Santa Rosa. Segundo ela, o formato de ensino visto em sala de aula atualmente, de muito discurso e pouca aplicabilidade do conteúdo, pode se provar extremamente maçante para o estudante.
O RN, assim como o Brasil, ainda apresenta altos índices de evasão escolar - 20% e 13% são as médias de abandono no ensino médio do Estado e do país, respectivamente, de acordo com o Censo Escolar de 2010. Entre as várias razões que contribuem para essa realidade, condições socioeconômicas, culturais e a falta de interesse do aluno pelo conteúdo repassado nas escolas são apontadas como as causa mais preocupantes.
O atual programa pedagógico da escola não interessa ao aluno
Verdade 2
Na avaliação da professora, para mudar esse quadro é necessário que se invista no processo de universalização da educação de base, assim como foi feito no caso ensino fundamental, anos atrás. "É muito recente a lei que torna obrigatória o ingresso das crianças em idade de educação infantil nas escolas. Por isso, o governo precisa se empenhar mais para divulgar essa norma e garantir o ensino a essa parcela da população", afirmou.
O que ocorre depois, explica Cláudia, é que o aluno pode correr o risco de levar aquela dificuldade pelo resto da vida e não poder concorrer de igual para igual com os outros estudantes, necessitando sempre de cotas sociais ou raciais para garantir seu ingresso nas instituições de ensino superior.
De acordo com ela, as perdas que este aluno tiver durante o processo podem refletir em seu futuro. "Alguém que não teve uma boa base de alfabetização, por exemplo, pode não conseguir desenvolver essa capacidade nas séries futuras, onde os professores geralmente dão menos atenção a este tema".
Os anos iniciais são de suma importância para o restante da vida educacional dos alunos. A afirmação é da pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa, que defende maiores investimentos para o setor da educação básica no país e no Estado. " A educação é um processo que começa desde os primeiros anos escolares, lá no ensino infantil, portanto, a qualidade desta formação inicial é essencial para o êxito da trajetória escolar dos estudantes", afirma a professora.
Uma boa formação de base é determinante para o desenvolvimento educacional
Verdade 1
Apesar de acreditar na possibilidade de um bom aprendizado em turmas grandes, ela não descarta a necessidade de que o educador dedique um período para atendimento individual dos alunos. "Esses momentos são necessários para que o professor possa acompanhar o desenvolvimento de cada aluno, visto que o processo de aprendizagem é subjetivo".
Segundo ela, é possível, sim, garantir um aprendizado de qualidade em uma turma considerada grande. "É tudo uma questão de metodologia. Vai caber ao professor conhecer a turma, avaliar e adaptar seu método de ensino a este grupo composto por muitos alunos. Não é uma tarefa fácil mas também não é uma medida impossível, tanto é que muitos professores o fazem de forma satisfatória", diz ela, explicando que, nestes ambientes, o profissional pode aproveitar para trabalhar junto aos estudantes noções de disciplina, respeito e cooperação.
Para a maioria dos professores, seja da rede pública ou particular, o alto número de alunos dentro das salas de aula representa um impeditivo a um processo de aprendizagem de qualidade. Segundo eles, é mais difícil obter resultados positivos em salas com mais de 30, 40 estudantes, do que em um ambiente com grupo reduzido, onde seria possível uma maior interação com o aluno. Na opinião da diretora do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, professora Márcia Gurgel, contudo, a relação entre quantidade de alunos e qualidade de ensino não precisa ser inversamente proporcional.
É impossível proporcionar um bom aprendizado a um grande grupo de alunos
"Os estudantes de escolas particulares geralmente têm condições socioeconômicas que permitem que ele tenha acesso a outros tipos de aprendizado, como um curso de idioma, a prática de esportes, livros e até mesmo viagens. Fatores que certamente engrandecem o seu processo educacional. Já as maiorias dos alunos da rede pública, que muitas vezes não têm as mesmas oportunidades, só têm a escola como ambiente de aprendizado. A escola pública, sozinha, acaba sendo responsável por todo o aprendizado do estudante e consegue fazer com que aquele jovem se desenvolva. Desta forma, para mim, ela é excelente", diz a professora, lembrando que, em muitos casos, os professores das escolas particulares são os mesmos da pública. Por causa disso, Márcia afirma que a rede pública merece mais atenção do poder público para poder cumprir o seu papel social de democratizar o saber.
Muito embora os indicadores criados pelo MEC demonstrem certa superioridade das escolas particulares em relação às públicas, a diretora do Centro de Educação da UFRN defende que as últimas conseguem obter mais destaque já que são, sozinhas, responsáveis pelo desenvolvimento educacional do aluno.
Apesar de reducionista, a ideia de que as escolas particulares são superiores às públicas ainda é propagada por grande parte da sociedade. Esse juízo simplista, que contribui para estigmatizar as unidades públicas, está equivocado segundo a professora Márcia Gurgel. "Existem escolas públicas boas e ruins, assim como existem entidades particulares boas e ruins. Generalizar é um grande erro", aponta.
Escolas particulares são melhores que as escolas públicas
Mito 3
A professora Márcia Gurgel também compartilha da mesma opinião. Segundo ela, a educação deu um salto considerável no sentido de universalização do ensino, mas ainda tem de melhorar em outros aspectos. "Conseguimos garantir o acesso, mas precisamos trabalhar agora na permanência destes alunos dentro do ambiente escolar. Esse é o grande desafio da nossa época", afirmou.
A pesquisadora do IDE admite, contudo, a possibilidade de o ensino ter sido superior durante aquela "época dourada". Mas, de acordo com ela, isso também era reflexo do diminuto sistema educacional do país. "Naquela época o número de escolas era infinitamente inferior, portanto, os investimentos eram suficientes para cobrir todas as necessidades. Hoje ocorre o oposto, faltam verbas para equipar todas as escolas", comenta.
"Naquela época uma parcela mínima da população tinha acesso ao ensino, a taxa de analfabetismo era gigantesca e a maioria dos freqüentadores das escolas públicas era da elite. Comparado aos dias de hoje, onde 97% da população tem a oportunidade de garantir uma vaga na rede pública, esse passado não deveria servir como modelo de sucesso", destacou ela.
Não é raro ouvir alguém dizer que no passado a educação pública no Brasil era melhor do que na atualidade. A informação, no entanto, não é de todo confiável, explica a pesquisadora do IDE, Cláudia Santa Rosa. De acordo com ela, os tempos "áureos" nos quais governadores e grandes intelectuais se formavam em escolas públicas não representam o melhor momento do sistema educacional brasileiro.
A educação de antigamente era melhor do que a dos dias de hoje
Mito 2
Para a pesquisadora do IDE, Cláudia Santa Rosa, a idéia de aumentar a remuneração do magistério poderia contribuir para que a profissão voltasse a ser disputada pelos "mais talentosos" e isso, somado ao aumento de investimentos nas escolas, teria um reflexo positivo na qualidade do ensino. "A docência tem de atrair os melhores profissionais do mercado, no entanto, o setor oferece apenas baixas perspectivas salariais e de carreira. Não é à toa que os professores tem de se desdobrar em mil escolas para garantir uma remuneração razoável, coisa que certamente prejudica o seu desempenho".
"Nem todos os profissionais do magistério são movidos a dinheiro. É claro que a melhoria do quesito financeiro ajudaria, mas só isso não é o bastante. Há de se investir também na valorização do profissional, proporcionando condições para que eles se sintam motivados a dar o melhor de si para mudar o quadro geral da educação do país", afirma a diretora do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), professora Márcia Gurgel.
O salário dos professores da rede pública é, atualmente, o tema mais polêmico na área da educação no Brasil. Considerado defasado em relação ao de outras categorias, ele é apontado por muitos como a razão da falta de qualidade do ensino da rede pública. Na opinião de especialistas, entretanto, essa é uma interpretação errada. Segundo eles, apenas o aumento da remuneração dos professores não seria capaz de garantir a melhoria de educação pública.
Mito 1
A opinião das jovens revela a precariedade do sistema educacional da rede público. Para entender os fatores que fazem com que educação não tenha alcançado o patamar desejado, a TRIBUNA DO NORTE procurou especialistas que descreveram os principais mitos e verdades do tema. Confira abaixo as opiniões da pesquisadora do IDE, Cláudia Santa Rosa, da diretora do Centro de Educação da UFRN, Márcia Gurgel e da secretária adjunta da SEEC, Adriana Diniz, sobre alguns dos pontos mais polêmicos como a remuneração dos professores, a relação da família e da escola e o desgaste do modelo pedagógico.
Fonte: http://www.ivanilson.com/
Fonte: http://www.ivanilson.com/
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