Cantigas de roda, canções de ninar ou músicas clássicas que os pais colocam para os filhos ouvirem desde cedo. É notório que música e atividades culturais são benéficas para as crianças, seja por aguçar os sentidos ou por promover a socialização.
Agora, uma pesquisa desenvolvida pela York University e pelo Royal Conservatory of Music de Toronto, no Canadá, traz novos fundamentos científicos para os benefícios dos sons no desenvolvimento infantil. Segundo especialistas dessas instituições, os pequenos, quando recebem treinamento musical, apresentam maior desenvolvimento cognitivo, especialmente quanto à inteligência verbal e à velocidade de raciocínio.
A análise foi publicada recentemente na revista especializada Psychological Science.As gêmeas Anna Júlia e Maria Clara Darolt, 7 anos, estão nesse grupo privilegiado. As irmãs fazem aula de flauta doce na escola desde os 5. O mais curioso é que a iniciativa partiu das próprias meninas e não da mãe, a professora Carolina Witzke Darolt, 35 anos.
“Uns professores passaram na nossa sala, quando a gente estava no primeiro ano, falando da aula de flauta”, lembra Maria Clara. “A gente resolveu ter aula porque a gente queria tocar um instrumento”, completa Anna Júlia.
As duas contam que gostam muito de música e que fizeram amigos durante as aulas. Questionada se às vezes fica com preguiça de estudar música, Maria Clara é taxativa: “Não, eu sempre gosto de ir pra aula”. Anna Júlia destaca que, nos próximos anos, pretende aprender violão.
“O bom é que não preciso perguntar se, entre um ano e outro, elas querem continuar a frequentar a atividade extracurricular. Elas já me pedem para renovar a matrícula antes que eu diga qualquer coisa. Espero que isso perdure”, diz a mãe. Carolina notou que suas filhas, desde que começaram a estudar música, tornaram-se mais concentradas e observadoras.
“Esses dois aspectos fazem com que elas aprendam mais facilmente, pois não ficam dispersas na escola, por exemplo”, cita. Ela ressalta ainda que o desenvolvimento do vocabulário das meninas é um processo natural da aprendizagem nas aulas de flauta. “Elas começam a aprender nomes de outros instrumentos, de itens envolvidos no universo musical”, exemplifica.
A iniciativa das gêmeas parece ser eficiente, de acordo com a pesquisa canadense. Uma das autoras do estudo, Ellen Bialystok, professora do Departamento de Psicologia da York University, explica que a análise foi feita com 48 crianças de 4 a 6 anos, selecionadas aleatoriamente para ter aulas com jogos que tinham como foco a música ou as artes visuais.
“O treinamento em cada aula tinha estrutura equivalente, com conteúdos interativos, personagens de desenho animado, entre outros. A única parte diferente entre os treinos, em termos de conteúdo, era que um tinha como base a música e, o outro, as artes visuais”, detalha.
Ellen conta que todas as crianças passaram por testes antes e depois de 20 dias de aulas, que tiveram uma hora de duração cada. “Esses testes focavam na inteligência verbal e em tarefas que deveriam ser executadas com atenção. As crianças que receberam aulas musicais evoluíram mais nessas áreas que as do outro grupo”, descreve a canadense.
Segundo o líder do estudo, o especialista em neurociência cognitiva Sylvain Moreno, da York University, o mais surpreendente foi notar que “a melhora cognitiva e de linguagem aconteceu em 90% das crianças do grupo que teve aulas com estímulo de música”.
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