segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Inspirados em Isadora, 'Diários de Classe' se multiplicam no Facebook


Dezenas de páginas semelhantes foram criadas desde a quarta-feira (29).
G1 reuniu dicas para quem quer usar a web para melhorar sua escola.


Em menos de dois meses, a estudante Isadora Faber, de 13 anos, conseguiu, por meio das redes sociais, pressionar o governo para conseguir melhorias importantes em sua escola. O sucesso da iniciativa da aluna, que conseguiu uma reforma de emergência na escola onde estuda e uniu pais, alunos e professores, tem servido de inspiração para crianças, adolescentes e jovens de todas as partes do país.
Desde a quarta-feira (29), dezenas de páginas semelhantes foram criadas no Facebook para expor problemas como janelas quebradas, salas de aula sem ventilação e falta de professores. Muitas páginas tentam seguir o modelo do diário de Isadora.
Desde que ganhou notoriedade, a estudante catarinense passou a receber também milhares de mensagens no seu perfil. A maioria é de alunos parabenizando-a e pedindo dicas de como criar uma página semelhante. Na tarde de terça-feira (4), por exemplo, Isadora tinha mais de 3 mil mensagens não lidas. Ela disse que às vezes tenta ler tudo. “Eu tento ler o máximo possível. Sempre tento responder para não ser mal-educada”, afirmou. Às vezes, ela também faz um único post respondendo às dúvidas de várias pessoas.
G1 visitou a estudante e lhe mostrou alguns exemplos de "Diários de classe" que surgiram no Facebook após a sua página ganhar destaque. São páginas criadas pelos internautas com o objetivo de mostrar os problemas de suas escolas de cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pará, Paraná, Paraíba, Minas Gerais e Santa Catarina.
Um deles foi criado pela estudante Sâmia de Souza Araújo, de 15 anos, que cursa o 1º ano do ensino médio no Liceu de Humanidades de Campos, em Campos de Goytacazes (RJ). "Eu vi areportagem no Fantástico  de domingo e achei muito interessante. A Isadora é tão nova e teve coragem de fazer isso, falar sobre a escola dela. Não é só porque a escola é pública que não temos o direito de ter melhorias", afirmou Sâmia ao G1.
A página foi criada por ela na noite de domingo (2) e, no dia seguinte, ela começou a angariar o apoio dos colegas. Já conseguiu a ajuda de uma amiga para produzir as fotos e vai contar com a divulgação dos alunos que coordenam a rádio do colégio e o grêmio estudantil.
Sâmia conta que nunca teve aula de química, mesmo já tendo cursado mais de meio ano no ensino médio. "A gente pergunta e eles só dizem que não tem professor para dar aula", conta a aluna. Outra crítica é quanto à ventilação nas salas de aula. Segundo a adolescente, a direção diz que não pode instalar ar-condicionado porque o prédio do Liceu, fundado no século 19, é histórico. "Eles dizem que não podem, mas na secretaria tem ar-condicionado. E nós não queremos ar-condicionado, podem colocar ventiladores. Na minha sala, tem só um ventilador, e ele está quebrado."

A mãe de Sâmia, a depiladora Giselle Pessanha de Souza, de 33 anos, afirmou que a história de Isadora a aproximou dos problemas da escola da filha. "Nem sabia que a escola estava com uma situação tão trágica quanto a da Isadora. Se ela não tem aula de química, como vai passar no vestibular? Falei para a Sâmia: 'Faz a página, quem sabe muda alguma coisa na sua escola'", disse ela.
Segundo Giselle, o Liceu é um dos colégios mais conhecidos da cidade. "É um patrimônio histórico. Ela não tem todos os professores, mas tem professores muito bons. O Liceu não é 100% ruim, tem muita coisa boa. Eu não queria que ela saísse da escola, mas ela precisa melhorar."
Em nota enviada ao G1, a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (Seeduc-RJ) afirmou que há carência de professor de química em apenas uma turma da 1ª série do ensino médio do Liceu. A Seeduc diz que já está tomando as providências necessárias para suprir esse déficit, convocando professores concursados e liberando o pagamento de horas-extras e que o prédio do Liceu de Humanidade de Campos é tombado. Portanto, é proibido instalar aparelhos de ar-condicionado nesta unidade, mas todas as classes têm ventilador.
Sobre a iniciativa da estudante em registrar na internet os problemas da escola, a Seeduc-RJ diz: "A Seeduc apoia todo e qualquer tipo de manifestação que venha contribuir para a melhoria dos espaços escolares. Contamos com a participação da população, pois a rede estadual conta com 1.358 escolas distribuídas por 92 municípios do Estado. É importante que toda a comunidade colabore na preservação e denuncie à Seeduc quem deteriora o bem público."




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